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#1: Aranha-macho criada na pobreza mantém economia mesmo após melhorar de vida

maio 1, 2019 em 8:26 , 1 comentário

Na notícia de hoje, contarei a pesquisa feita por ex-colegas do laboratório no qual eu fiz o doutorado, cujo primeiro autor é meu grande amigo Renato C. Macedo-Rego. Ele pesquisou se o quanto uma aranha-macho come no passado afeta sua capacidade de oferecer comida para as fêmeas no presente. Segue a notícia:

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Em muitas espécies, os machos capturam e oferecem presas para as fêmeas ao cortejá-las. Chamamos essa comida que é oferecida para conquistar parceiras sexuais de presente nupcial.

Do ponto de vista da fêmea, a qualidade do presente oferecido pelo macho traz duas informações importantes: 1) o macho é um bom caçador e consegue capturar presas volumosas; 2)o macho pôde deixar de comer para oferecer a presa como presente, o que é um sinal de que ele está com a barriga cheia e em boa condição física. Assim, machos que oferecem bons presentes nupciais devem gerar filhos saudáveis, o que garantirá uma ninhada saudável para a fêmea.

Mas o que determina a qualidade da presa oferecida pelo macho? Será que é alguma capacidade com a qual o macho nasce, algo genético? Ou será que a história de vida do macho, como as experiências que ele vive, são importantes? Para descobrir qual o efeito da dieta dos machos na qualidade do presente que eles oferecem, os pesquisadores escolheram a aranha Paratrechalea ornata, encontrada no Uruguai e em várias regiões do Sul do Brasil.

Macho de Pisaura mirabilis segurando o presente nupcial que construiu para atrair fêmeas. Créditos da imagem: Luiz Ernesto Costa-Schmidt


Como eles fizeram?

Os pesquisadores coletaram as aranhas-macho jovens e criaram essas aranhas no laboratório com a mesma dieta alimentar, para que todas tivessem a mesma condição física quando se tornassem adultas. Na 1ª etapa do experimento, os pesquisadores dividiram as aranhas-macho adultas em grupos com diferentes dietas: 1) grupo bem alimentado; 2) grupo mal alimentado. Após três semanas, na 2ª etapa do experimento, ambos os grupos tiveram suas aranhas-macho divididas em outros dois grupos cada: A) grupo bem alimentado; B) grupo mal alimentado. Portanto, ao final desta 2ª etapa, os cientistas dispunham de 4 grupos de aranhas:

1.A) Sempre bem alimentadas;

1.B) Bem alimentadas antes, mal alimentadas depois;

2.A) Sempre mal alimentadas;

2.B) Mal alimentadas antes, bem alimentadas depois.

Durante a 2ª etapa do experimento, todas as aranhas-macho foram mantidas em potes que continham teias produzidas por fêmeas, o que estimula os machos a construir presentes nupciais. Ao final do experimento, os pesquisadores contabilizaram quantas aranhas de cada grupo deixaram de comer as presas para construir presentes nupciais.

 

O que eles descobriram?

Os pesquisadores perceberam que:

- quase todas as aranhas-macho do grupo 1A construíram presentes nupciais, quantidade maior do que as quantidades de aranhas que construíram presentes nos outros 3 grupos experimentais;

- poucas aranhas-macho do grupo 2B construíram presentes, mesmo após comerem bem (a quantidade de aranhas-macho que construiu presentes foi igual a quantidade do grupo 2A);

- comparando somente as aranhas-macho dos grupos 1B e 2B que construíram presentes, os machos os do grupo 2B construíram presentes menores.

 Ou seja, a decisão de construir ou não um presente e a qualidade do presente que aranhas-macho constroem depende mais da fome que elas passaram quando jovens do que da fome que elas estão no momento, por mais que a fome atual também importe.

Macho de Pisaura mirabilis segurando o presente nupcial que construiu para atrair fêmeas. Créditos da imagem:  Luiz Ernesto Costa-Schmidt

 

Por que isso é importante?

Para os machos, este comportamento ‘econômico’ é um problema. Machos que não oferecem presentes nupciais dificilmente conseguem conquistar fêmeas e ter filhotes. Além disso, quanto maior o presente que o macho oferece, mais atraente ele é para uma fêmea. Dado que machos que passaram fome no início da fase adulta não constroem presentes ou constroem presentes pequenos, estes machos não conseguirão copular mesmo que estejam em boa condição no presente.

Para as fêmeas, este comportamento ‘econômico’ dos machos pode ser vantajoso. Em outra espécie de aranha (Pisaura mirabilis), machos que passaram fome produzem filhos fracos, mesmo que estejam em boa condição física no momento de construir o presente. Dessa forma o presente nupcial oferecido pelo macho serve como um sinal honesto de sua qualidade e da qualidade dos filhotes que ele vai gerar. O que é ótimo para a população de aranhas!

Concluindo

O comportamento de machos adultos da espécie de aranha Paratrechalea ornata depende de sua história de vida, o que ajuda as fêmeas a escolher parceiros e pode garantir a qualidade da prole produzida por essas fêmeas.

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Para acessar o artigo científico, clique aqui. Autores do artigo: Renato C. Macedo-Rego, Luiz Ernesto Costa-Schmidt, Eduardo S. A. Santos e Glauco Machado .

 

Erika M. Santana


1 comentário - #1: Aranha-macho criada na pobreza mantém economia mesmo após melhorar de vida

Paulo - maio 3, 2019 em 6:14
Ótimo trabalho! Parabéns aos autores!

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