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1/3: Para além da seleção natural...

abril 9, 2019 em 9:59 , 1 comentário

Quase todo mundo (e, com certeza, todo biólogo), sabe quem foi Charles Darwin. No seu livro “A Origem das Espécies” publicado em 1859, Darwin revolucionou a forma como entendemos o mundo ao propor a teoria da evolução das espécies por seleção natural. O que poucos sabem é que, em 1871, Darwin publicou um outro livro: “A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo”. Neste segundo livro, Darwin relata que, em muitas espécies, podemos encontrar indivíduos com características exageradas (especialmente os machos), que não só trazem desvantagens para a sobrevivência como reduzem a habilidade de fuga e a capacidade de conseguir alimentos. Talvez o exemplo mais conhecido seja a cauda do pavão que, apesar de ser linda, faz com que os machos sejam presas fáceis para seus predadores. O dilema para o qual Darwin não tinha uma resposta convincente quando publicou seu primeiro livro era: como características que só atrapalham o dia a dia dos machos podem ter evoluído por seleção natural? A resposta só veio no seu segundo livro, quando ele propôs a teoria da SELEÇÃO SEXUAL.

Mas exatamente o que é e como funciona essa tal de seleção sexual? Formalmente, a seleção sexual se refere às ‘diferenças não aleatórias no sucesso dos indivíduos de uma espécie em conseguir parceiros e gerar filhotes’. Essas diferenças seriam resultado da competição entre indivíduos do mesmo sexo (em geral machos) pelo acesso aos indivíduos do sexo oposto (fêmeas), e à escolha de parceiros sexuais (em geral feita pelas fêmeas). Parece complicado? Bem, vamos por partes.

Imagine uma espécie em que machos e fêmeas sejam morfologicamente iguais. Agora imagine que devido a mutações genéticas sofridas ao acaso um macho desenvolva uma característica que traga vantagens na disputa por fêmeas. Pode ser, por exemplo, o surgimento de chifres que o ajudem a afastar machos rivais para longe das fêmeas. O surgimento de chifres nos machos traz vantagens não apenas na obtenção de parceiras sexuais, mas também na sobrevivência, pois os chifres podem ser usados para afugentar predadores. Ao longo do tempo, machos com chifres maiores sobreviverão melhor, copularão com mais fêmeas e deixarão mais filhotes do que machos com chifres pequenos. A competição entre machos pelo acesso às fêmeas é o primeiro mecanismo que Darwin reconheceu como sendo parte do processo de seleção sexual.

Macho e fêmeas do veado manchado (Axis axis). Fonte da imagem

O segundo mecanismo que faz parte do processo de seleção sexual reconhecido por Darwin é a escolha de parceiros sexuais. É a preferência feminina por características masculinas que explica a evolução da cauda do pavão. Segundo Darwin, fêmeas teriam uma predileção inata por ornamentos vistosos e acasalariam com machos de ornamentos maiores, mais coloridos ou mais elaborados. No final do século XIX, a ideia de que a escolha das fêmeas era importante para a evolução de características masculinas foi mal recebida. Não apenas pela sociedade como também pelos pesquisadores. Porém, na primeira metade do século XX, a escolha feminina voltou a ser estudada. Então, a hipótese de uma "predileção inata por ornamentos vistosos" foi substituída pela existência de genes que controlam a preferência das fêmeas por características masculinas. Hoje, por exemplo, sabemos que tais genes existem e que os filhotes do sexo feminino herdam os genes de preferência de suas mães. Ainda buscamos compreender como tais genes de preferência surgiram e se mantiveram na população ao longo das gerações. De qualquer forma, o padrão geral é bem conhecido.

Pavão macho exibe sua bela cauda para tentar conquistar a fêmea. Nos pavões (Pavo cristatus), só os machos possuem a cauda ornamentada. Esta característica evoluiu devido à seleção sexual. Fonte da imagem

Em resumo, tanto a presença de armamentos (tais como chifres) como de ornamentos (tais como a cauda do pavão) que aumentam o sucesso de acasalamento e o número de filhotes de um indivíduo devem ter evoluído por seleção sexual. Um macho com armamento ou ornamento desenvolvido não só deixará mais filhotes, como também seus filhOs herdarão as características do pai. Além disso, suas filhAs herdarão “o gosto” das mães por machos com tais características. Se quanto maior for o chifre ou a cauda de um macho, mais fêmeas tal macho conseguir fecundar, o resultado esperado é que, ao longo do tempo, só haja machos com chifres ou caudas longas na população. Não importa se ter chifres e ornamentos grandes ajuda ou atrapalha a sobrevivência dos machos. O que importa é que essas características aumentam o números de filhotes que esses machos tem.


No próximo post, vou explicar como a soma das ideias de Darwin com os resultados de um experimento feito no início do século XX levaram os cientistas a estabelecer papéis sexuais para machos e fêmeas. Não percam!

Erika M. Santana



1 comentário - 1/3: Para além da seleção natural...

Paulo - abril 10, 2019 em 5:29
Ótimo texto! Claro e didático! Aguardando os próximos! =)

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