2/3: E depois do Darwin?
Como eu
expliquei no post anterior, a competição entre machos pelo acesso às fêmeas e a
escolha de parceiros sexuais pelas fêmeas são os dois mecanismos descritos por
Darwin para explicar como a seleção sexual ocorre. Apesar de ter dado o pontapé
inicial, Darwin não foi muito além disso, pois suas ideias sobre seleção sexual
encontraram uma enorme resistência dentro e fora da academia. O próximo grande
passo na nossa compreensão sobre o SEXO no mundo natural ocorreu em 1948,
quando o geneticista Angus John Bateman publicou os resultados de seus
experimentos de acasalamento feitos com moscas de fruta (Link para a citação original aqui).
Bateman identificou cada mosca e registrou o número de cópulas por indivíduo
(sim, voyerismo animal), o número de filhotes por indivíduo e a habilidade
dos filhotes produzidos em competirem com os outros por comida.
Bateman
descobriu que: (1) quanto mais os machos copulavam, mais filhotes eles
deixavam; (2) copular mais não aumentava o número de filhotes produzidos pelas
fêmeas; (3) alguns machos conseguiam copular muito mais e ter muito mais
filhotes que outros; (4) as fêmeas variavam pouco entre si na
quantidade de cópulas e no número de filhotes produzidos ao longo da vida; (5)
quando as fêmeas puderam escolher com qual macho copular, seus filhotes eram
mais habilidosos em competir por comida do que os filhotes daquelas que copularam com machos sorteados por Bateman. Baseado nos
resultados de seus experimentos, Bateman chegou a algumas conclusões gerais
sobre o comportamento sexual de machos e fêmeas:
1) Machos investem pouca energia por gameta, produzindo grandes quantidades de gametas pequenos e móveis (espermatozóides). Isto faz com que machos tenham o potencial de deixar um número maior de filhotes ao longo da vida, ou seja, possuam uma grande taxa reprodutiva potencial. Sendo assim, o sucesso reprodutivo de machos depende do número de fêmeas que eles conseguem fecundar. Por isso, espera-se que machos compitam entre si pelo acesso às fêmeas.
2) Fêmeas investem muita energia e gastam mais tempo para produzir seus poucos gametas imóveis. Por isso, fêmeas tem uma taxa reprodutiva potencial menor. Logo, seu sucesso reprodutivo depende da qualidade do macho com o qual ela copula. Assim, fêmeas deveriam escolher bem com quem copular.
Esta atribuição de papéis sexuais para machos e fêmeas é
chamada de paradigma Darwin-Bateman e foi um dos avanços mais
importantes no entendimento de como a seleção sexual age sobre os organismos em
geral.
Esquema lógico do Paradigma Darwin-Bateman. A
partir de diferenças iniciais no tamanho dos gametas, temos uma sequência de
eventos que influenciam o comportamento sexual de machos e fêmeas.
No próximo post, vou explicar como e porque as espécies que fazem sexo para se reproduzir não se comportam exatamente como previsto Paradigma pelo Darwin-Bateman. Não percam!
Erika M. Santana